sexta-feira, novembro 12, 2010

O Fim


Eu abri a porta e você entrou.

Uma brincadeira de Orkut como pretexto para um reencontro. Uma ligação, deitada no chão do meu apartamento vazio, uma música do Led ao fundo. Qual era a a música?
Lembra que eu recém tinha saído da casa de meus pais, nem sofá tinha. Fogão emprestado do meu tio. Sem ele.. nossas jantas. As taças de 'sapinho', os copos de plástico, dois pratos, velas e nós bastava.
Lembra a cama que parcelei em 10x, atrasei parcelas, ela era nosso mundo. Mas nem a cama de solteiro era tão ruim assim. Dormíamos no espaço de um.
Lembra nós sentados na poltrona, eu em seu colo, rindo. Ríamos de que? Então você disse: eu te amo e eu gargalhei. Você não se importou e riu comigo. Rir juntos era talvez o nosso melhor.
A Valsa da minha formatura, a chuva de prata, pra você eu era a mais linda, simplesmente porque eu era sua.
Lembra o show do Nenhum de Nós, o empréstimo que fizemos, o pensamento, ah, depois pagamos.
O Cassino no inverno, nosso acampamento, a rede que você colocou em cima do córrego para eu dormir ouvindo o barulho da água.
Os almoços de domingo no meu plantão.
A paixão por LOST.
Lembra quando fomos a praia e eu dormi a tarde toda no carro, cansada e você ali, ao meu lado. Sem reclamar.
Lembra como chorei quando cheguei em nosso apartamento novo e todas as coisas estavam empilhadas, não tinha nem onde passar. Deitei na cama e você como sempre conseguiu me confortar e tornar aquele lugar em nosso. Até paredes pintamos. Ainda lembro os tons de verde.
Os planos do nosso casamento, na beira do lago, um dia lindo de primavera.
Eu lembro que com você eu podia ser criança e sempre me sentir mulher. Lembro como amava meu corpo, mesmo com suas imperfeições.
Lembro de fazer amor ouvindo Janis Joplin e me apaixonar de novo.
Mas a vida veio e nos mudou e os planos se afastaram. A mágoa nasceu invadindo o que antes era tão simples. As taças se quebraram..
Quando você foi viajar a última vez, eu sabia o fim. E parte de mim não queria que você fosse, lembra? Chorei, implorei, não vá! E vê-lo descer as escadas..
Coloquei todas as suas coisas em caixas de papelão. Que confusão, nós misturados em objetos, coisas que não sabiam se eram suas ou minhas. Eram nossas, afinal. Pensei em meu pai. Lembrei ele tirando seus livros também entrelaçados ao de minha mãe da estante. Eu criança, espiando, escondida. Telespectadora de uma vida a dois que chegava ao fim. E agora era minha vez.
Trouxe os móveis sob medida para um outro lugar, onde eles não se encaixam. Sentei em frente ao meu novo prédio, verde, coincidência e chorei, solucei, chamei atenção das pessoas. Eu sempre tão contida não consegui esconder minha dor, minha perda. O sentimento de derrota.
Não lembro nossas últimas palavras. Não sei quando a dor passou, nem quando parei de te amar.

Mas sei que fechei a porta.

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