A primeira vez que ouvi falar de Elizabeth Bishop foi assistindo um filme bonitinho, mas não emocionante. O filme? Em Seu Lugar (In Her Shoes, EUA, 2005). Maggie (Cameron Diaz) recita de forma atrapalhada um dos mais lindos poemas escritos por Bishop. E sem dúvida, a cena mais tocante do filme.
Apaixonada por poesia e amparada pelo vasto universo oferecido pela Internet, saí a procura! Queria conhecer melhor essa desconhecida (para mim) escritora.
Li vários de seus poemas e um pouco sobre sua curiosa biografia. Elizabeth Bishop nasceu em 1911 e foi considerada uma das maiores poetas americanas do século XX. Órfã de pai e mãe, que sofria de alguma doença mental, viveu uma vida recheada de perdas, culminando com a perda de Lota de Macedo Soares, uma brasileira com quem viveu uma intensa estória de amor, nos quinze anos que morou aqui. Sim, no Brasil. O desfecho? O suícido de Lota.
Essa famosa estória de amor estará nos cinemas! Uma produção de Luiz Carlos Barreto com Glória Pires como protagonista. O título mais adequado impossível: 'A Arte de Perder'.
Estava refletindo... será que conhecemos mais uma pessoa por meio de sua biografia ou por seus poemas? Como gostaríamos de ser lembrados? Quem era Elizabeth? O mais curioso... dizem que Bishop queria ser médica, mas abandonou a idéia e resolveu se dedicar a poesia.
Aqui vai o poema. Enjoy!
One Art
(Elizabeth Bishop)
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day.
Accept the fluster of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant to travel.
None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look!
my last, or next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
- Even losing you (the joking voice, a gesture I love)
I shan't have lied.
It's evidentthe art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.
Uma Arte
Tradução de Horácio Costa
A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.
Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.
Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias ir.
Nenhuma perda trará desastre.
Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.
Perdi duas cidades, eram deliciosas.
E, pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.
- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente amado),
Mentir não posso.
É evidente: a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda – escreva tudo! – lembre desastre
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