Mal cheguei em casa e saí.
Fiquei apreensiva, telefonei para amigas.
Chorei, fiquei angustiada.
Passei lápis nos olhos, pisquei para mim.
Achei que precisaria de máscaras.
Peguei cerveja no Posto.
Encontrei amigos, conhecidos e pessoas de quem apenas tinha ouvido falar.
Conheci desconhecidos.
Já fui tantas vezes onde fui mas é sempre um outro lugar.
Bebi um chopp.
Acendi um cigarro.
Amei minhas unhas vermelhas, mãos e pés.
Uma pessoa fui para encontrar, outras sabia estariam lá. Outros me preparei para encontrar. Alguns uma adorável surpresa.
Revi o sorriso doce e acolhedor da minha paraninfa. Que bom que você estava lá!
Abracei tantos!
Abracei quem amo.
Bebi dois chopps.
Pedi uma música.
Ouvi Raul.
Pensei se ele realmente já tomou banho de chapéu alguma vez.
Lembrei eu criança querendo tomar banho com um guarda chuva.
Dancei!
Cantei alto, cantei para mim, cantei com amigos. Cantei músicas que não sabia a letra.
Falei besteira.
Ouvi besteiras.
Conversei sobre a minha vida.
Breves diálogos sobre medicina.
Recebi um elogio sobre o que escrevo.
Me envaideci.
Bebi três chopps e mais um cigarro.
Olhei as estrelas.
Ri sozinha.
Entendi algumas coisas sob outra perspectiva.
Falei mal de alguém.
Falei por falar.
Falei por sentir.
Vi jovens felizes, comemorando suas conquistas.
Senti a felicidade deles.
Ouvi que estava linda.
Me senti linda.
Experimentei a vaidade.
Aprendi a usar uma máquina de chopp!
Pensei em contar uma mentira.
Me senti um pouco tonta.
Perdi a conta dos chopps.
Ouvi confidências de um amigo.
Ri sem motivo.
Gargalhei. Senti minha barriga doer e lágrimas escorrerem dos meus olhos.
Fui um pouco provocativa.
Ouvi as risadas que mais adoro.
Olhei nos olhos de alguém que amo muito.
Pensei nas máscaras que queria trazer, que bobagem.
Vi casais que se amam.
Outros nem tanto assim.
Me senti tão eu.
Desfiz fantasias.
Ganhei um selinho.
Escutei uma banda maravilhosa.
Não tocaram todas as músicas que queria.
Não falei tudo que gostaria, mas e daí?
Fiquei trancada fora de casa.
E novamente eu ri.
Os cigarros acabaram.
Bebi uma coca bem gelada.
Fui mordida por um cachorro.
Mal dormi.
Vesti um jaleco que não era meu.
Preparei uma anestesia.
Dei a notícia a uma jovem que ela seria mãe.
Vi a Nicole nascer.
Fui paciente de um pequeno procedimento cirurgico.
Senti dor e seu alívio.
Fiquei um pouco rouca, falei tanto assim?
Liguei para minha mãe.
Peguei carona com meu padrasto.
Senti saudade de meus irmãos.
Tomei um banho e doze horas chegaram ao fim.
Ah vida, as vezes me pergunto tanto, por que estou aqui?
E 'você', com apenas algumas horas, me invade de sentido.
Afinal, 'você' é simples assim...
sexta-feira, dezembro 17, 2010
domingo, dezembro 12, 2010
O Telefonema
Olhava pela janela de seu apartamento a cidade que aos poucos adormecia. A noite era quente, o céu estrelado. Vestia uma calcinha preta e uma regata branca. Ouvia o barulho da televisão ligada, não percebia os diálogos. A TV trazia rajadas de cores a sala escura. A luz apagada.
Esticou a mão para alcançar a carteira de cigarros. Impaciente não localizou o isqueiro. Deteve-se por alguns instantes em sua sala. Suspirando fundo, caminhou até a mesa central e pegou seu isqueiro preto. Acendeu o quinto cigarro da noite, na tentativa frustada de aliviar a ansiedade. Queria poder programar seu cérebro para se auto desligar. Sorriu com esse pensamento.
Voltou-se novamente para as luzes da cidade. Percebeu sua imagem refletida no vidro. Olhou em seus próprios olhos. Não sabia mais quem era. Lágrimas borraram sua visão. Com um rápido piscar de olhos sentiu elas descendo, aquecendo seu rosto.
Olhou o relógio, 2hs da manhã. Lembrou dos compromissos do dia seguinte. Queria fechar os olhos e acordar em outra vida. Não queria viver o dia de amanhã. Não queria ter vivido o dia de hoje.
O telefone tocou tirando ela de seus devaneios. Uma descarga de adrenalina invadiu seu corpo. Sentiu o coração acelerar, quase podia ouvi-lo bater em seu peito. A respiração tornou-se ofegante, suas pupilas dilataram-se. Sentiu as mãos suadas.
_ Oi, atendeu com a voz um pouco trêmula.
_ Oi, acordada?
Instantes de silêncio.
_ Saudade, disse baixinho a voz do outro lado da linha.
Quantas noites ela desejou receber esse telefonema. Ouvir sua voz. A voz que sussurrou amores e malícias em seu ouvido. A voz que imaginou que ouviria pelo resto de seus dias.
Desligou o telefone. Apertando ele com força contra seu peito. Tocou novamente. Não podia mais atender. Não podia mais ouvir sua voz. Eles tão íntimos, agora dois estranhos. A cama quente hoje fria. Dois voltava a ser um.
Quem era ele? Não sabia mais responder. Ele se transformou em tantos dentro dela que agora não sabia mais que parte dele estava ligando. Quem estava com saudade? Não havia ninguém. Apenas fragmentos de um alguém. Quem?
Jogou o telefone no sofá o sentou-se no chão. Acariciou com uma das mãos o tapete macio. Encolheu-se, abraçando as pernas. Chorou sozinha a sua dor. A dor lacinante que rasgava seu peito. Não era mais a perda de um amor. Era a dor do vazio.
A única saudade que sentia era dela mesma.
Adormeceu.
O som do despertador foi aos poucos invadindo seu sonho. Abriu os olhos. Sentou-se na cama sentindo o corpo cansado. Movimentou delicadamente a cabeça e o pescoço. Podia sentir novamente seus músculos. Saindo da cama, olhou-se no espelho. Seus pequenos olhos refletiam sua exaustão. Sorriu. Naquele instante não sabia exatamente o que queria. Mas sabia exatamente o que deveria fazer. Ser ela mesma.
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